segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mercado de TI: oportunidades e diferenças entre os Estados Unidos e o Brasil

LG: Os Estados Unidos são, definitivamente, o palco das grandes empresas de tecnologia, como Apple, Microsoft e Oracle. Estando nesse boom de tendências, quais são as principais perspectivas do mercado de TI norte-americano para os próximos anos, em sua opinião?
 

Washington: Entre essas grandes empresas, gostaria de citar também a HP que, após comprar a empresa EDS em 2009, iniciou um avanço na área de serviços e está conquistando cada vez mais um segmento do mercado antes dominado exclusivamente pela IBM.
Com certeza, as empresas líderes do mercado de TI no mundo tiveram sua origem aqui nos Estados Unidos. No entanto, atualmente estamos na era da globalização e a as ações se iniciam não somente na América do Norte, mas em vários outros países.
A principal tendência de mercado hoje é Cloud Computing Service. No entanto, esta ideia de aplicativos, infraestrutura e plataformas disponibilizados remotamente e acessados apenas por um navegador não é nova. Mas, tem evoluído para um conceito mais prático e pode ser classificado basicamente em três categorias:
  • Infraestrutura como serviços, do inglês Infrastructure as a Service (IaaS)
  • Plataforma como serviços, do inglês Platform as a Service (PaaS)
  • Programas ou aplicativos como serviços, do inglês Software program as a Service (SaaS) 
A principal abordagem que tem influenciado a tendência de Cloud Computing e separado do tradicional hosting é o fato de que se pode contratar os serviços, de acordo com a demanda e a elasticidade para crescer ou diminuir a Cloud.

Com essas tendências se solidificando, não é difícil pensar no dia em que teremos simplesmente um terminal com acesso à Internet com vários serviços disponibilizados, de acordo com a necessidade de cada empresa.
LG: É possível falar de temas, produtos e tecnologias que estão ditando o mercado norte-americano atualmente?
 
Washington: Com a recessão dos últimos quatro anos, sendo o período mais crítico nos anos de 2009 a 2010, o mercado de tecnologia sofreu fortes cortes em verbas e pesquisas. Atualmente, reestruturação é a palavra de ordem.
Muitas empresas focadas no retorno de uma economia estável, aproveitam o momento para substituir servidores e aplicativos obsoletos por novas tecnologias. Como a oferta é grande e a procura é pouca, os preços agora estão bem inferiores aos estipulados há dois anos atrás.
Por exemplo, o nosso principal cliente teve a produção reduzida a 25%, mas sabia que em curto prazo seria necessário retomar o crescimento. Aproveitou o momento de paralisação para substituir velhos servidores Alphas (OpenVMS) e aplicativos (COBOL) por novos servidores INTEL (Windows 2008 R2) e aplicativos .net e JAVA. Uma atualização que em situação normal teria um custo elevadíssimo. Sem a pressão do resultado imediato e podendo negociar preços a super ofertas, a atualização foi realizada em um curto período.
Apesar do mercado de TI norte-americano estar passando por um momento de recessão e reestruturação, temas como “consolidação de bases”, “virtualização de servidores” e cloud services são muito discutidos no momento.
LG: Comparado ao mercado de tecnologia norte-americano: quais seriam os pontos fortes e fracos das empresas brasileiras?
 
Washington: As empresas brasileiras estão se qualificando muito rapidamente e os profissionais no mercado são de altíssima qualidade.
Infelizmente, o Brasil ainda enfrenta muitos problemas fiscais e trabalhistas que atrapalham o crescimento das empresas e assustam os investidores internacionais. O investidor americano planeja o futuro em meses e anos, já o brasileiro, infelizmente, ainda planeja em dias e meses. Se o País quer realmente se mostrar competitivo e definir um novo mercado tecnológico para concorrer com a Índia, principalmente, terá que, primeiramente, resolver esses problemas.
Algumas outras questões também atrapalham o boom das empresas brasileiras, como a contratação do profissional “terceirizado”, caracterizado como “pessoa jurídica” (PJ), para burlar as leis trabalhistas. Este tipo de contratação deveria deixar de ser regra. A razão é que neste tipo de contrato o vínculo com o empregador é fraco. A ideia que prevalece nas empresas é que o profissional “presta serviço” quando, na verdade, ele é parte integrante da equipe.
Trabalhei no Brasil como PJ por cinco anos, já que esta é a forma de contratação mais comum da área de TI. Nos Estados Unidos, sou funcionário de tempo integral por uma grande empresa do setor de tecnologia, mundialmente conhecida, com mais de 350 mil funcionários em todo o mundo. Inclusive, com uma grande parcela de colaboradores brasileiros. O sentimento de “pertencer” à organização e não “prestar serviço” é diferente e interfere no trabalho do funcionário.
Igualmente, as empresas americanas possuem uma estrutura bem mais rígida do que as empresas brasileiras, essas trabalham com planejamento e execução. Considerados tanto como pontos positivos quanto negativos, visto que podem gerar uma inflexibilidade e lentidão nas respostas para mudanças, aspectos normais em qualquer projeto de TI. Nós, brasileiros, ganhamos terreno pelo “jogo de cintura” e pelo famoso “jeitinho brasileiro”.
LG: Empresas no exterior estão procurando profissionais brasileiros da área de tecnologia da informação para atuar fora do Brasil. Qual seria o principal motivo dessa importação de profissionais no mercado americano?
 
Washington: Os famosos head hunters (caçadores de talentos) buscam bons profissionais em qualquer parte do mundo. O Brasil tem provado ser uma ótima fonte de profissionais. Estou nos Estados Unidos a convite de um head hunter.
Os Estados Unidos acreditam fortemente na competição e na lei da oferta e da procura. Existem várias ofertas no mercado americano, mas, com a globalização, muitos trabalhos antes executados somente no País, agora são “exportados” para países do terceiro mundo. Seja pela mão de obra barata, investimento fiscal ou por que não encontram profissionais disponíveis no mercado local.
Os salários pagos para profissionais de alta qualidade nos Estados Unidos não são muito diferentes dos pagos aos profissionais no Brasil. A diferença está no custo de vida, nos impostos pagos e nos benefícios oferecidos.
A procura se deve também ao fato de muitos trabalhos serem pontuais e necessitarem de um profissional de alto gabarito pelo período de seis meses ou um ano. Com isso, a oferta de certificações e especializações, juntamente com a de trabalho, se tornam um atrativo muito forte para quem deseja aperfeiçoar o inglês e conhecer um pouco da cultura, por um determinado período de tempo. Conheço muitos brasileiros, indianos e alguns europeus que estão nos Estados Unidos justamente com esses propósitos.
LG: Como você vê o mercado de TI nos Estados Unidos para os brasileiros? Você acha que essa imigração de mão de obra interfere de alguma forma no mercado nacional?
 
Washington: As leis americanas de imigração estão mais severas e isso dificultou a entrada de profissionais. Por outro lado, felizmente, a procura pelo profissional brasileiro continua crescendo.
O mercado nacional, devido ao crescimento, já sofre com a falta de mão de obra qualificada. Existe um grande número de vagas ociosas e a procura está maior do que a oferta. Aos jovens que estão deixando a universidade, aconselho que a melhor aposta é qualificar-se e especializar-se em uma área especifica. A área que atuo nos Estados Unidos, a engenharia de dados, e outras, como engenharia de software ou infraestrutura, estão notoriamente sofrendo com a falta de profissionais.
LG: Como você avalia, desde que saiu do Brasil, a evolução do mercado de TI brasileiro?
 
Washington: Deixei o Brasil, primeiramente, no ano de 1995 e retornei em 2003. Neste período, as mudanças foram enormes. O advento da comunicação em massa, globalização e o surgimento de novas tecnologias foram marcantes no final da década de 90.
Em 2003, poucos eram os profissionais com certificações e especializações em TI no mercado do Centro-Oeste. Esse quadro mudou bastante entre os anos de 2003 a 2007, quando fui convidado a retornar aos Estados Unidos.
Hoje, o Brasil possui profissionais de altíssimo nível. Tenho vários colegas com certificações, mestrados e doutorados, adquiridos no Brasil e no exterior. Centros de pesquisas e avanços tecnológicos, como o Instituto Eldorado, de Campinas, oferecem oportunidades incríveis para todos os níveis.
A qualidade do profissional está evoluindo. Empresas buscam por certificações como ISO e CMMI, e precisam compor profissionais com qualificação técnica em seus quadros funcionais, forçando o mercado a se especializar cada vez mais.

LG: O que você acha da expansão das empresas nacionais de TI no mercado internacional?
 
Washington: A POLITEC, empresa multinacional de TI fundada em Goiânia/GO, já ocupa um papel de destaque entre as empresas de tecnologia, inclusive nos Estados Unidos. Sempre existirá espaço para a competência e para a qualidade. E as empresas brasileiras têm demonstrado que possuem ambas.
A APDATA, empresa brasileira desenvolvedora de software, apesar da crise no mercado americano, anunciou a abertura de sua primeira filial em Orlando.
Empresas como as mineiras Concert, Nansen, Axxiom, Senergy e CEMIG, a catarinense WAY2, a cearense FAE Tecnologia, a paulistana Treetech e a carioca Choice, todas voltadas para soluções no setor de energia, estiveram presentes e apresentaram seus cases e negócios, em fevereiro deste ano, no encontro do setor, realizado em San Diego, CA.

Exemplos como esses mostram que as empresas brasileiras estão conquistando mercados, antes liderados por organizações americanas ou européias. Isso prova a nossa capacitação, competência e o nível de competitividade que alcançamos.

Washington Peres é engenheiro de banco de dados e Oracle DBA na HP, localizada em Burns Harbor, IN. Atua há mais de 15 anos na área de TI com análise, desenvolvimento e administração de banco de dados Oracle e no suporte de diferentes ferramentas e versões. Possui certificado



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